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CENTRO UNIVERSITÁRIO SERRA DOS ÓRGÃOS




Unifeso Sem Fronteira: Estudante de Medicina relata experiência de estágio no Egito

03-03-2022

“Digo que no Egito aprendi sobre a medicina de guerra. A gente atende com o que tem e faz o que dá para fazer para tentar salvar o paciente. Muitos evoluem para óbito, pois a condição à qual são submetidos é assustadora”. O relato da estudante Juliana Paternostro, do 6º período do curso de Medicina do Centro Universitário Serra dos Órgãos, resume um pouco do que foi a experiência dela de um mês no departamento de Cirurgia Geral do Assiut University Hospital, na cidade de Asyut, no Egito.

Juliana foi uma das beneficiadas do programa Unifeso Sem Fronteira, um programa que oferece bolsa para estimular a internacionalização. O objetivo é fomentar a mobilidade internacional dos estudantes em instituições de ensino superior estrangeiras, complementando a formação, atualizando o conhecimento e vivenciando experiências únicas. Confira o relato da estudante sobre a experiência de estágio em Medicina no país que liga o nordeste da África ao Oriente Médio.

“Sempre quis fazer um estágio internacional em Medicina, só que para mim este era um sonho muito distante. Eu nunca tinha saído do país, até que vi a oportunidade pela Coordenação Local de Estágios e Vivências (CLEV). No fim de 2020, estava no 3º período e participei do processo seletivo. Fui aprovada em todas as etapas e tinha que tomar a decisão se eu ia mesmo ou não, afinal, teria que arcar com os custos da viagem. Fui aprovada para a universidade do Egito e as passagens eram caras”. 

“Foi então que surgiu a oportunidade da bolsa Unifeso Sem Fronteira, para a qual fui aprovada também, e me auxiliou bastante nos custos. O meu sonho sempre foi conhecer Dubai e a maioria das escalas dos voos para o Egito acontecem lá. Então, além de fazer um intercâmbio na área em que eu atuo, consegui conhecer o lugar dos meus sonhos. Foi um mês de experiências totalmente enriquecedoras. O Egito é um país riquíssimo em cultura, em costumes, mas é totalmente diferente do Brasil. Aprendi demais”.

“Quando eu coloquei o pé no Cairo, capital do Egito, vi uma realidade totalmente diferente da que eu imaginava. Lá quem é rico é muito rico, e quem é pobre é muito pobre. É um lugar onde não há saneamento básico e nem hábitos de higiene. O trânsito é caótico, não existem semáforos, e, inclusive, fui atropelada, mas por sorte não foi grave”.

“Do Cairo para a cidade de Asyut, onde fiz o estágio, levei de oito a dez horas de viagem. Era bem desgastante, mas fui muito bem recebida e acolhida. Fiz estágio em um grande hospital público, que é referência no Egito. Fiquei hospedada no próprio campus da faculdade, onde também ficava o hospital. Lá não há tantas mulheres exercendo a medicina, já na área da Enfermagem, vemos mais mulheres”.

“Egito é perrengue. Por ser um país mulçumano, as mulheres só podem sair acompanhadas. Então, se eu precisasse comer ou trocar dinheiro, tinha que esperar um homem me acompanhar. No hospital eles não usam máscara; a questão da esterilização para fazer procedimentos, como um acesso venoso central, não existe; para fazer cirurgia, o paciente não tira toda a roupa, só descobre a parte que será operada; não há assepsia; o hospital é sujo; e os pacientes evoluem muito rápido com infecção. Há também um índice muito grande de desidratação, pois a água é contaminada, então o paciente pode acabar se contaminando, piorando sua condição. O maqueiro também faz as vezes de enfermeiro e de outras funções. E ele não tem o aparato que precisa para os centros cirúrgicos, que são lotados”.

“Eu peguei uma infecção lá, uma disenteria. Fiquei evacuando sangue e muco por mais ou menos uma semana, queimando em febre. Desidratei. Até para se recuperar é difícil, pois a alimentação lá é muito carregada, muito temperada e cheia de carboidrato, então não tem como se alimentar bem. Foram dias difíceis, testei os meus limites, tive experiências em que ri e chorei, que me alegrei e que fiquei triste, mas que fazem parte da construção de um futuro médico. Como médica vou lidar com várias situações e devo estar preparada para todas elas. Temos que aprender a trabalhar com os recursos disponíveis, temos que aprender a lidar com os nossos sentimentos, tudo isso me agregou muito. Pensei algumas vezes em desistir, mas aguentei. Algumas pessoas voltaram antes do estágio terminar porque não aguentaram. Não me arrependo de forma alguma de ter ido, conheci pessoas incríveis, fiz amizades, pude colocar o meu inglês em prática e conhecer lugares e culturas novos”.   

“A gente reclama muito do Brasil, mas nada se compara à situação que é vivida lá. Por mais que as pessoas reclamem do SUS e da fila de espera, lá os pacientes não têm nem metade do serviço prestado aqui. Voltei para o Brasil com ideias e projetos novos, alguns já em andamento. Espero poder contribuir e somar conhecimento para os estudantes que querem ir. Uma experiência dessas deve ser compartilhada, espero que consiga ser porta-voz e motivadora para quem queira viver tudo isso”.

Por Juliana Lila

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