28/10/2025 18:05:17
Há mais de 40 anos, a Capoeira chegou a Teresópolis como um movimento de resistência da cultura afro-brasileira. Ao longo das décadas seguintes, a prática corporal reconhecidamente brasileira inspirou a vida de centenas de pessoas por meio do movimento corporal, da música e da ancestralidade. Atualmente, a cidade possui diversos grupos dedicados à Capoeira e com representantes reconhecidos pelo respeito e compromisso com essa arte.
Uma dessas pessoas que tiveram a vida marcada pela Capoeira é Monique Pereira da Silva, aluna do sexto período do curso de Educação Física do Centro Universitário Serra dos Órgãos (Unifeso).
Há 20 anos, ela pratica o estilo regional pela Associação Serra dos Órgãos de Capoeira, fundada e coordenada pelo mestre Erick Vandesten. Ela conta que o primeiro contato com a Capoeira aconteceu aos 9 anos de idade.
“A Capoeira me abraçou desde o primeiro contato e o que me admira nela é a capacidade de mexer com o corpo e a mente, por meio de movimentos corporais e musicalidade. Ela salvou minha vida, me faz sentir mais viva e mais forte a cada gingado e toque de berimbau”, contou Monique.
Mais do que um caminho de desenvolvimento pessoal, a Capoeira teve um papel ainda mais marcante na trajetória de Monique. A representatividade se tornou um ponto especial em sua história como mulher negra, já que ela foi a primeira mulher de Teresópolis a conquistar o título de contramestra.
A formatura dela como contramestra ocorreu em 29 de maio deste ano. “A caminhada foi longa e árdua, quem acompanhou minha história sabe que não foi fácil. Agradeço ao meu mestre pela confiança, sabendo ele do meu amor, dedicação e total respeito pela Capoeira. Hoje, carrego esse título com muita representatividade, felicidade e orgulho”, comentou.
Dessa forma, Monique Pereira da Silva segue os passos das pessoas que trouxeram a Capoeira para Teresópolis nas figuras de mestre Batata, fundador do grupo Ganga Zumbi; mestre Elias, fundador do grupo Senzala; e mestre Sorriso, fundador do grupo Regiangola.
A Capoeira no Unifeso
Na última quarta-feira (22), o campus Quinta do Paraíso recebeu diversos grupos de Capoeira da cidade para participar de uma atividade durante a 10ª edição do Congresso Acadêmico-Científico do Unifeso (X Confeso).
Com o título “Troca de Saberes na Roda: diálogos entre a Educação Física e a cultura popular brasileira através da Capoeira”, foram apresentadas toda a sonoridade e as técnicas para interessados em conhecer de perto essa arte marcial.
Durante o encontro, estiveram envolvidos o Grupo de Capoeira Angolinha (CGANG), a Associação Serra dos Órgãos de Capoeira (ASOC) e também a Associação Grupo de Capoeira Regiangola.
O papel da Capoeira para a Educação Física
Como estudante de Educação Física do Unifeso, a contramestra Monique Pereira da Silva reconhece a importância da Capoeira na formação de qualquer futuro educador físico. Para ela, a prática vai além do movimento corporal, permitindo também uma forma de ressignificar a profissão, ampliando a compreensão da atividade física para além do senso comum.
Para incentivar a integração dos alunos com toda a cultura promovida pela Capoeira, o curso de Educação Física insere a atividade em um projeto de extensão desenvolvido desde 2024, por meio do Programa de Incentivo à Extensão (PIEX).
Segundo o coordenador do curso, professor Nei Jorge dos Santos, “a Capoeira é um importante objeto educacional no campo das práticas corporais, pois entendemos que a inserção de manifestações culturais significativas contribui para a descolonização curricular e para uma formação mais plural e crítica”.
Realizado todas as quartas-feiras, de 18h às 21h, no Centro Cultural Feso Pro Arte (CCFPA), o projeto é orientado e supervisionado pela professora e também capoeirista Amanda Schutt.
Também incentivadora da Capoeira como forma de integração cultural, a professora reflete sobre os desenvolvimentos motores que a atividade possibilita, seja nas metodologias de roda, nas expressões sociais e identitárias.
“A Educação Física possui raízes higienistas, militaristas e competitivistas, o que torna necessário um diálogo com práticas corporais oriundas das culturas populares e afro-brasileiras para um olhar mais crítico da área. Em Teresópolis temos uma cultura bastante colonizada, o que torna ainda mais urgente o diálogo com a cultura popular de resistência. A Capoeira, nesse contexto, é essencial”, apontou ela.
Por: Raphael Branco